
A forma de escrita incute um certo carácter humorístico na vida complicada de um rapaz adolescente que se revela lamentável e que observa os valores da sociedade britânica e a sua estruturação de classes. Adrian assenta no seu diário os inúmeros projectos que pretende realizar, desde pintar as paredes do quarto de preto a conquistar o coração de Pandora. A personagem é-nos apresentada entre os seus 15 anos e ¾ e os 21 anos de idade, detentora de um estatuto pouco popular na escola e portadora do sonho de ser um grande escritor que vai sendo sublinhado ao longo das páginas do seu diário. O adolescente chega mesmo a escrever um romance (Lo! The Flat Hills of My Homeland) que iria ser arrumado como (mais) um projecto inacabado. A história inscreve Adrian Mole num ambiente familiar disfuncional, em que os pais são teimosos consumidores de álcool e tabaco e acabam por se divorciar, muito em jeito das narrativas e filmes de adolescentes americanos. Adrian Mole conta as suas peripécias e frustrações sempre com um alto grau de comicidade e episódios desastrosos, que são publicadas em 6 volumes: The Secret Diary of Adrian Mole, Aged 13 ¾ (1982), The Growin Pains of Adrian Mole (1985), The True Confessions of Adrian Albert Mole (1989), Adrian Mole: The Wilderness Years (1993), Adrian Mole: The Cappuccino Years (1999), Adrian Mole and the Weapons of Mass Destruction (2004).
Atrevo-me a partilhar com vocês duas passagens do volume O diário secreto de Adrian Mole aos 13 anos e ¾:
«Domingo, 24 de Maio
Decidi pintar o meu quarto de preto; é uma cor de que gosto. Não aguento viver nem mais um minuto com o papel de parede do Nody. Na minha idade é completamente indecente acordar e ver ovelhas e o resto dos idiotas da Terra dos Brinquedos a correr de um lado para o outro (…).
Segunda-feira, 25 de Maio
Decidi que vou ser poeta. O meu pai diz que não há uma carreira específica para poeta nem pensões nem nada dessas coisas chatas, mas estou firmemente decidido. Ele tentou interessar-me a vir a ser operador de computador, mas eu disse: «Eu preciso de pôr a minha alma no trabalho, e toda a gente sabe que os computadores não têm alma». O meu pai disse: «Os americanos andam a trabalhar nisso». Mas eu não posso esperar tanto tempo.(…)
Comecei a pintar o quarto mal cheguei a casa da loja de bricolage. O Nody continua-se a ver através da tinta preta. Parece que vai precisar de duas de mão. Que sorte a minha!»*
*TOWNSEND Sue, O Diário Secreto de Adrian Mole aos 13 anos e ¾ , Lisboa: Difel Difusão Editorial, 1982, p. 69.
Para saberem mais: http://www.adrianmole.com/
sevenswirl2008
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